quinta-feira, 31 de março de 2016

Privilégio de classe

Infelizmente o ensino público universitário ainda é um espaço colonizado, ocupado por elites. Disso todo mundo sabe.
Aqueles que estão ocupando cargos de poder, como os de diretores, reitores e até mesmo de professores, têm uma visão econômica, na maioria das vezes, privilegiada. Até tem professor com boa intenção, mas que, infelizmente, nunca sentiu na pele o que é ser pobre. O que existe é um certo imaginário sobre o que é ser pobre. E essas boas almas cristã olham para os pobres de uma forma vertical, sempre na sua posição de conforto, autorizando os pobre galgar um degrauzinho a mais.
Essas relações são todas estruturadas na ideologia da meritocracia.
O pobre que quiser "subir" na vida por meio da vida acadêmica tem que saber jogar esse jogo da meritocracia se não quiser perecer. E notem que até em materia de "esforço" a diferença de esforços é bem diferente para o pobre e para o não-pobre.
Daí quando o pobre consegue terminar o curso suadamente, consegue fazer uma pós-graduação, ele entra num mundo completamente ilusório do qual ele nunca fez parte.
Se ele tiver a sorte de conseguir uma bolsa, o pobre vai poder viver por aproximadamente 10 anos nessa ilusão. Mas, se o pobre, escolher um curso completamente fora do mercado, e uma área completamente desconhecida para o senso comum, ele vai ter que rebolar de peruca nos finais de semana pra poder pagar as contas quando a bolsa acabar.
Os cursos notamente "inúteis" como a Linguística ou qualquer um na área de artes são feitos e desenhados somente para as elites. Com um diploma de Linguística, vc não se torna um linguista. Vc vai ter que ficar dentro desse jogo meritocrático o resto da vida (na pós graduação e depois dela tb) se quiser ser um linguista!
QUEM TEM O PRIVILÉGIO DE ESTUDAR LINGUÍSTICA NO BRASIL SEM TER QUE SE PREOCUPAR COMO VAI PAGAR AS SUAS CONTAS DEPOIS QUE A BOLSA ACABAR?

Durante a minha formação, eu perdi de vista a minha pertença a classe dos pobres e vivi a ilusão de ter ascendido.
Uma vez, uma dessas vozes privilegiadas me disse que eu já não pertencia a classe proletária, que os parâmetros universitários me colocava numa classe média. Eu nunca entendi direito o que queria dizer classe média e classe proletária aqui. Desencanei por achar que seriam conceitos anacrônicos de quem pode ter o privilégios de teorizar. Mas eu vivi a ilusão dessa classe por mais de 10 anos. Sempre driblando a carteira de trabalho, tão comum entre os colegas da minha classe.
Hoje, um pouco mais distante desse pensamento colonizador, um poco mais distante da grande mesa que sempre me atribuiu migalhas, consigo perceber que nunca pertenci de fato a outra classe. Descobri que, se vc não nasceu em berço esplêndido, não basta conquistar a ascensão social, é preciso se enquadrar para se manter nessa classe. E o preço disso é aceitar a meritocracia!!
Au revoir, mes amours, mas isso não cola pra mim.