quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Escritura

Eu preciso escrever para dormir. Escrever é a minha pílula de Morfeu. Sem a ponta dos dedos, sem o teclado, as pálpebras não fecham. Preciso desentupir a cabeça, anuviar com as palavras. Hoje eu não encontro o caminho das letras. Está difícil escrever. Talvez eu não tenha conseguido me despir diante do espelho. Talvez esteja envergonhado do meu nu: uma vergonha, ao mesmo tempo, de mim mesmo e dos outros. Escrever exige um outro, nem que seja eu mesmo. E, nesse mundo de vaidade, não quero mostrar minha carne para ninguém. Sou fruto, não sem consciência, do consumo. E neste momento me sinto infeliz por não ser consumível. Escrever não bastará.

domingo, 4 de dezembro de 2011

Desistir?

É muito difícil encontrar companhia…  à medida que o tempo vai passando,o crivo vai se estreitando, porque agora já não me sacio com as frivolidades juvenis. Preciso de sal: muitos são os corpos salgados, poucas são as mentes. O tempo avança e me distancio. Minhas projeções são cada vez mais intensas, porque já é raro encontrar uma paixão percuciente.
Mas as projeções passam, as situações me fazem cair na real.
E depois, tudo fica claro.
Desistir é mais complicado ainda, porque o curso dos livres-arbítrios pode jamais se entrelaçar, apesar de tantas semelhanças. Mais uma vez, os fatídicos azares da vida podem afastar para muito distante, talvez para o mar do esquecimento, a companhia que lhe supre (física e mentalmente).
Um “sim”, hoje, repercutirá em todo um trajeto, longo, muito longo.... que talvez um “não” pudesse abreviar sepulturalmente.
Eis um jogo de escolhas complexo como o de encontrar companhia e como o de desistir delas.

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Oração da liberdade


Oh, coisa divina a que alguns chamam Deus, e a que eu prefiro chamar mente, fazei-me resistir aos desejos que não são meus. Fazei-me resistir a essa força que é anterior a mim e que permanecerá inabalável posterior à minha existência. Ajudai-me não só a entender os caminhos que me subjetivam, mas também a discernir quais deles são correntes da coerção das massas e quais são as vontades do meu eu latente. Dai-me força para viver de acordo com a liberdade. E que a minha felicidade esteja dentro e não fora. Elevai meu espírito ao mais alto dos objetivos humanos de modo que todos os sofrimentos se tornem os mais espúrios. Afastai-me da mesquinhez, livrai-me da vontade de propriedade. Iluminai meu coração para que eu entenda que nada me pertence. Daí-me serenidade e mais nada para que possa compreender, relativizar e amar sempre.
Que seja desse jeito.

terça-feira, 28 de junho de 2011

O problema é o feminino

O machismo está aí batendo em nossas casas há muitos séculos. A adoração ao masculino não é uma invenção da nossa sociedade e nem se originou no nosso tempo. É difícil precisar como se deu a primeira manifestação machista. Há os que digam que essa forma de poder existe desde que o homem das cavernas começou a puxar a mulher pelos cabelos. Mas não importa. O machismo é algo cultural, isso quer dizer que ele foi criado pelo homem, ainda que a retrógrada psicologia evolucionista apregoe que se trata da própria biologia humana. Por ser algo cultural, ele funciona como um efeito catraca: o homem o aprendeu em alguma etapa de sua filogênese e o foi aperfeiçoando (se é que podemos dizer que o machismo é algo perfeito). Da Grécia Antiga, da qual legamos muito da cultura, podemos ler tragédias e comédias de autores muito influentes que menosprezam a mulher, que a inferiorizam. A misoginia, cujo próprio termo é grego, é o ódio pelo feminino.


Com o passar do tempo, o machismo vai sendo transmitido culturalmente para as novas gerações e vai se modificando.

A análise que faço do machismo hoje no Brasil, e talvez na América latina, é de que ele é um tipo de misoginia. O machismo nosso hoje é uma aversão pelo feminino. Odiamos o feminino na medida em que exaltamos o masculino. Aprendemos que ser masculino é mais importante que ser feminino. Ser masculino é prestigioso. Também criamos toda uma concepção do que é ser feminino. Ser feminino é ser sentimental, é ser frágil, é ser sensível, entre muitas outras coisas. Portanto, ser feminino não é apenas possuir uma vagina. Mas quem possui uma vagina sofre em dobro, porque se espera dessas pessoas um comportamento feminino.

Essa forma de machismo se manifesta por todos os lados e inclusive dentro dos movimentos de minorias. A lesbofobia, que é a aversão por lésbicas, é um exemplo desses. Muitos gays (do sexo masculino) têm horror a lésbicas. Mas essa fobia é por causa do elemento “feminino” advinto do estereótipo daquela que possui uma vagina. No fundo, o lesbofóbico é misógino, porque tem horror ao feminino.

O gay afeminado também vai sofrer desse preconceito dentro do próprio coletivo do qual faz parte, porque os gays não afeminados estão inseridos nessa lógica do machismo. Quase todo mundo odeia o feminino.

Muitos queimarão as bandeiras cor-de-rosa. Por quê? Porque o rosa representa o... feminino.

Mas o engraçado disso tudo é que os gays percebem que eles são oprimidos pela sociedade heteronormativa. Os gays percebem que o machismo os oprime. Mas eles não percebem que até eles mesmo são opressores quando lhes toca. O machismo só é percebido quando se infringe uma norma heterossexual: a de que homens se relacionam com mulheres. Contudo, o machismo não é percebido quando ele infringe uma conduta homonormativa: o de que gays devem ser masculinos.

Os gays percebem como lhes pesa uma macrofísica do poder, mas não percebem que eles instauram uma microfísica desse mesmo poder.

Recentemente saiu um vídeo chamado “Não gosto de meninos”. Eu, particularmente, não gostei muito dele, porque apesar de ser muito instrutivo, e por isso tem uma mensagem vendável, ele demonstra essa microfísica do poder. Lá pelas tantas, um dos entrevistados diz: eu achava que ser gay era ter uma postura assim (e nesse “assim”, você entende “ser bixinha”). Sabe, tudo bem de você não gostar de comportamentos afeminados. Mas, por favor, não me venha recriminar o “feminino”.

Exatamente pelo ódio ao feminino ser uma tradição e exatamente por ser um construto social, é que podemos combater esse tipo de preconceito. Não odeie as travestis, não odeie as transexuais ou os transgêneros. Acredito que essas categorias, umas que transitam outras que transgridem as fronteiras entre o masculino e o feminino, deveriam ser as mais prestigiadas dentro da cultura gay. Porque, na maior das instâncias, são elas que derrubam e desfazem as hierarquias entre masculino e feminino e permitem que você, gay masculino, não tenha medo do armário. Por outro lado, não adianta você sair do armário, se você carrega um guarda-roupas de preconceito contra o feminino.

Quando a gente começar a vencer essas barreiras dentro do grupo é, então, que poderemos falar de combate PLENO ao machismo. Reage, galera, machismo é violência.

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Meu nome fala

Alguns defendem que os nomes revelam muito sobre as coisas a que eles rotulam. Outros, contudo, são da opinião de que o nome é arbitrário a coisa. Eis uma polêmica antiga, antiga como o diálogo de Crátilo, escrito por Platão.
Realmente sabemos que há muita arbitrariedade no nome das coisas. Por que “cadeira” se chama “cadeira” em português e “silla” em espanhol? Se houvesse um motivo para as coisas se chamarem como elas se chamam, então, não haveria línguas variadas e uma língua mesma não teria variações.
Meu nome, por exemplo, não guarda nenhuma essência, uma característica própria, uma dieguice, que me faz chamar assim. Talvez o sobrenome sim, porque já vem caracterizando todos os meus ancestrais e, no mínimo, diz sobre minha genética. Já foi carregado de semântica histórica.
No entanto, coincidentemente, meu nome consegue falar muito sobre mim. Se o analisarmos cuidadosamente, veremos que a arbitrariedade cedeu passo a uma motivação. No meu caso, pura coincidência? Não, prefiro considerá-la como uma apropriação!
Vamos começar pelos sobrenomes:
Ramirez, este vem marcar minha ascendência hispânica, alguma vez perdida na colonização americana. Acreditamos sempre que somos filhos de quem somos. Cremos que o nome é a nossa origem.
Ledo engano!
Quantos outros sobrenomes não tiveram de ser apagados para que Ramirez vigorasse? Quantas mulheres índias ou brancas silenciaram a transmissão de seus sobrenomes?
Ramirez, por exemplo, pertence ao padrasto do meu pai. Desavenças familiares fizeram com que os Forcados, os meus geneticamente aparentados, não legassem seu rótulo à geração seguinte. O nome do homem deixou de ser transmitido ao meu pai. Menos machismo? Pelo contrário, mais machismo cultural: o pai não assume sua cria e outro homem nomeia a cria da desamparada.
Ramirez, porém, é um nome que, embora não fale da minha genética, conta a história da minha família. Faz parte da minha identidade e me faz ser paraguaio. Ramirez, no espanhol paraguaio, é tão frequente quanto aos Silva, no português brasileiro. É um nome que representa o que há de mais comum no povo paraguaio. De certo, é revelador quanto ao meu processo identitário.
Agora vamos a Jiquilin. Realmente Jiquilin é o meu sobrenome. Não se trata de apelido, embora muitos pensem assim. Também não é um nome indígena e nem é paraguaio. Jiquilin é o que eu considero um verdadeiro nome brasileiro. Criado aqui, fruto de miscigenações, cuja história obscura tento decifrar.
Conta-se que Jiquilin é um nome italiano. Meus avós inclusive costumavam dizer que é um nome oriundo da Calábria. Tenho minhas dúvidas. A terminação “in” é freqüente nos sobrenomes franceses. O professor Ilari uma vez me disse que na época da chegada dos italianos, ou seja, na época da enorme recessão europeia, era comum que muitos franceses migrassem à Itália e de lá viessem ao Brasil.
Também não sei se Jiquilin tem algo de francês. Sei que com minha intuição linguística posso tentar reconstituir esse nome.
A começar pela confusão entre fala e escrita.
Suponhamos que o acento ainda seja oxítono, então podemos defender que a vogal “i” da sílaba tônica tivesse sido no passado um “i” mesmo.
Mas, os outros dois “i”s poderiam ter se originado de um “e”. Vocês se lembram que em quase todo o Brasil, pronunciamos como “i” quase todos os “e”s postônicos e alguns pretônicos? Tenho certeza de que o escrivão, o que primeiro cometeu esse lapso, muito provavelmente deixou-se guiar pela pronúncia já abrasileirada do sobrenome.
Então, já temos no mínimo alguns candidatos: Jiquilin, Jequelin, Jequilin, Jiquelin.
Quanto à escrita, há de considerar-se que a letra “j” não existe em italiano (existe sua irmã “g”, atualmente pronunciada como uma africada), isso tudo se o sobrenome for italiano.  Se assim for, o “qu” do português tem de dar lugar ao “ch” italiano. Assim, as possibilidades escritas para o nome remoto seriam: Gichilin, Gechelin, Gechilin ou Gichelin.
Também devo considerar que o contexto de final de palavra propicia em muito as erosões fonéticas. E, então, por que não considerar a existência de mais uma sílaba, cujo núcleo é preenchido por um “i”? Soaria mais italiano, no mínimo. Agora, as possibilidades do sobrenome ancestral se duplicariam: Gichilin, Gechelin, Gechilin, Gichelin, ou ainda, Gichilinni, Gechelinni, Gechilinni, Gichelinni.
O santo Google aponta a existência de algumas dessas formas, mas eu prefiro não conhecer esse passado. É uma história que pouco importa para a formação do meu sujeito. Atualmente, os Jiquilin somos bem poucos, muito raros, em vias de extinção. Só há minha família, de 4 ou 5 ramos, cujas portadoras do nome são majoritariamente mulheres da geração da minha avó e da minha mãe, as quais não transmitirão o sobrenome para seus filhos, ou, quando passado aos filhos, estão fadados ao sepultamento, já que não figuram como o nome mais importante. O do macho é o mais importante.
Gosto de ser raro. Gosto também da confusão que as pessoas fazem com o meu lado paraguaio. Há uma palavra em espanhol que muito se parece com Jiquilin, é “Chiquilín”, traduzido ao português como “pequenino”. Somente comigo essa brincadeira funciona, já que sou o único Jiquilin nativamente (o que quer que seja o significado de “nativo”) hispano-falante. Dessa vez, o Hermógenes, aquele personagem do Platão, teria razão: sou um pequenino e meu nome fala isso sobre mim.
Atenção, o mais interessante é que o meu primeiro nome conta muito sobre mim. Sou Diego. O dono de dois egos. Di-ego.
Acho que não teria nome melhor que pudesse deixar tão evidente essa minha identidade que se faz no interstício de dois mundos.
Sou geminiano, o signo das duas faces. Talvez uma para cada mundo. Sou binacional, uma para cada ego. Sou bilíngüe, uma para cada eu. Realmente devo reconhecer que guardo dentro de mim dois pólos.
No entanto, mais do que estes pólos, transito continua e ininterruptamente entre eles. A minha identidade é essa: a da inquietude, a da infinito-culturalidade. Entre 0 e 1, há um mar infinito de possibilidades.
Com tudo isso, não defendo a não arbitrariedade do signo. Demonstro como tenho a felicidade de que meu nome fale sobre mim. De como o tempo faz a gente dar significados para os signos. Sou único. Meu nome é único. E a minha história é a que eu quero lembrar!

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

primeiras impressões Paraguai (nem tão primeiras)




Sou invadido por um sentimento muito paradoxal, quando venho ao Paraguai. Gosto muito da cultura cosmopolita, da sofisticação, do requinte, e o Paraguai é um país em que raramente estas características ocorrem. A capital Assunção pode até oferecer uma centelha disso, mas nada se compara ao mundo moderno das capitais europeias ou mesmo da grande São Paulo. E, então, penso se consigo ficar longe dessa cultura, com a qual fui me acostumando ao longo dos últimos anos.
Por outro lado, no Paraguai, tenho certeza de que posso encontrar das pessoas mais amáveis e doces por aí nesse mundo.
Desse jeito, vejo minha cultura posta em xeque. Sinto-me como o filho interiorano que cresceu e se mandou para a capital. Ao mesmo tempo que me dá vontade de ir embora viver a cidade grande e mergulhar a fundo no ambiente jovem da universidade brasileira, tenho também a imensa vontade de permanecer mais tempo, sentir todo o carinho que os paraguaios dispendem a mim.
Penso se já não é hora de retribuir à sociedade o conhecimento que dura e afavelmente adquiri. Na verdade, vejo esta oportunidade de ser leitor como um momento de transição entre minha vida de aluno e a de professor. Sem um limite muito estanque, sempre na sombra da ambiguidade: ora pendendo para um lado, ora para outro.
Não consigo ter um olhar muito exotizante do Paraguai, porque parte da minha identidade pertence a este país também, assim, acabo não vendo muitas das diferenças culturais que um brasileiro "puro" talvez veria.
Talvez o calor exacerbado é um dos primeiros fatores que chamariam a atenção do paulistano, ainda que ele viesse de Ribeirão Preto. No dia em que cheguei, fazia um calor que não sentia há muito tempo.

O segundo ponto são os pernilongos. É preciso dormir de mosqueteiro, senão você é engolido pelos bichinhos. Na minha primeira noite, esqueci do repelente e do mosqueteiro, e pra piorar, deixei a janela do
meu quarto aberta. Resultado: amanhaci inchado pelas picadas. Mas essa não é a primeira vez que me acontece e nem me incomoda tanto o fato. Minha mãe conta que quando eu era bebê, uma vez movi o véu do berço e fui devorado pelos mosquitos.
Vacinado de pernilongos já estou!
O terceiro ponto chamativo, e este devo confessar que também estranho muito, é a paisagem do país. O terreno é completamente plano e a vegetação, se não estou enganado, parece ser Mata Atlântica. No meio dela, não há uma paisagem urbana. Com exceção de algumas cidades, o Paraguai é extremamente rural. Diria até que as cidades têm um aspecto peculiar de sujeira. Há muita poeira. E muitos municípios seque são asfaltados. Falta infraestrutura básica. Não há saneamento. Este é o cenário oposto daquele que eu gosto, conforme descrevia no princípio deste relato.
As estradas são bem conservadas, no entanto. O país é cortado por grandes rodovias, que, por sinal, comunicam muito bem todas as regiões. Quase não há pedágios. E em algumas rodovias quase não há movimento também.
Quando o ônibus pára em algum ponto, logo ele é abarratado por vendedores ambulantes, quer no interior do veículo quer do lado de fora dele. Se você olhar pelo vidro, seguramente vai ser alvo de algum vendedor afoito por fazer você comprar. O que ele vendem são geralmente alimentos. Comida típica paraguaia: empanada, chipa. Também vendem biscoitos e bolachas, refrigerantes, água e chicletes. Está tudo à mão, por um preço muito baixo.
A população é bastante pobre. E nisso também há muita diferença com o Brasil. Diferença na quantidade. Parece que todo mundo é pedinte, parece que todo mundo é vendedor de semáforo.
Vejo muita gente usando roupa velha e rasgada. E isso não é vergonha por aqui, é praticamente a regra. Use sua roupa até ela acabar.

E então tenho que falar um pouco do cenário urbano: as cidades parecem que pararam no tempo. O design das lojas, as fachadas e a arquitetura parecem ser bem antigas. Em geral, os letreiros das lojas são feitos de latão, o que confere um ar de ferrugem aos lugares. Os paraguaios não economizam nos anúncios, a poluição visual é tremenda. É o lado feio e sem glamour do capitalismo. À mercê do sistema e com a barriga vazia, a solução é vender qualquer coisa em qualquer lugar.



Penso seriamente como um brasileiro reageria nma situação dessa. A biagem da capital até Concepción, município localizado no centro norte do país, levou 10 horas. O ônibus que tomei estava num estado extremamente precário. Prefiro não reclamar e nem descrever. Só devo mencionar um episódio da viagem que serve para reforçar o caráter amistoso dos paraguaios. Lá pelas tantas, o pneu do veículo explodiu, no meio de uma rodovia deserta. Mas em menos de meia hora estava tudo arrumado, graças à ajuda das raras conduções que por ali passavam.


Até agora tenho falado do Paraguaidos pobres, ou seja, do Paraguai de mais de 80% da população. Mas há um outro Paraguai muito diferente: o Paraguai dos ricos. Tive contato com esta gente poucas vezes. Venho de uma família de artistas e ser artista é saber se relacionar, é saber ser filho de mecenas. Na minha primeira noite em Concepción entrei mais uma vez em contato com esta trupe. Participei de uma cerimômia de gala na qual esteve presente o governador do Estado, o Reitor da Universidade, o Embaixador do Brasil, o Cônsul paraguaio no Peru, o vice Cônsul e uma delegação imensa composta de esposas "ingênuas" (para não dizer alienadas) e madames.
Enfim pude saber qual seria minha missão em Concepción: ajudar a fundar um curso de formação em língua portuguesa.
A Universidade Nacional de Concepción é composta de quatro a cinco casinhas, muito longe de ser qualquer das universidades brasileiras. A história do lugar é muito interessante (ela existe há menos de quatro anos). O terreno era antigo território dos militares!



Fiquei muito contente em saber que havia sido convocado para participar da construção do ambiente.
Toda aquela cerimônia era para marcar a assinatura de um acordo de cooperação entre o governo brasileiro e o estado de Concepción, mas no sentido de que o Brasil forneceria ajuda ao país vizinho. Minha presença era o símbolo da concretização daquele acordo. Cheguei a ter o nome mencionado várias vezes pelas autoridades e fui convocado a discursar para a plateia (fui pego de surpresa). No fundo, sinto muito nojinho dessa postura paternalista do Brasil. Chega a soar como algo de hipocrisia, que não chega a remediar os estragos da Guerra da Tríplice Aliança. Por outro lado, sinto-me encorajado tanto porque estarei participando de um capítulo importante no desenvolvivmento cultural e social desse lugar como também porque senti de perto o calor humano das pessoas ávidas em aprender e em mudar a situação em que se encontram.
Creio que meu sentimento paradoxal aos poucos irá se amenizando, porque o embate das correntes é bem propenso para um lado. já que se trata de uma luta material contra uma luta humana. O grande problema é que não tenho toda essa maturidade em abrir mão de uma cultura do consumo e da vaidade.
Estou no Paraguai também para me conhecer mais. A falta de amigos e da família, com certeza, vai me proporcionar momentos muito interessantes de reflexão. Acredito que estarei muito mais enfocado nos meus objetivos! Esperemos e veremos!

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Discurso de formatura Lingüística (2004-2007)

Revendo e-mails antigos, encontrei entre eles o discurso de formatura escrito por minha amiga Denise. A turma em questão era a minha, a de Lingüística, na época em que "linguística" ainda tinha trema. Espero que resulte interessante essa saborosa mensagem.





Discurso de Formatura – Turma de Lingüística
18/01/2008

Denise Pozzani de Freitas Barbosa

Agradecimento

Boa noite à mesa, aos pais e colegas. Gostaria, primeiramente, de agradecer a meus companheiros de turma, por terem me escolhido para representá-los nesta cerimônia.




Quando, em 2004, iniciou-se esta turma do curso de Lingüística, não era possível imaginar como estaríamos hoje. Afinal, além se sermos estranhos uns aos outros àquela época, nosso curso não nos parecia nada convencional (fato, que, talvez, tenha sido o primeiro de muitos que nos uniram). É verdade também que éramos muito diferentes, pessoas de diferentes idades e lugares, um pouco ou nada experientes na vida acadêmica, experimentando os sabores de novidade que esta universidade nos oferecia de mão cheia.

As primeiras impressões dos colegas hoje parecem remotas; possivelmente, a maioria delas até tenha sido descartada da memória, substituída por tantos outros acontecimentos mais marcantes que nos transformaram neste grupo de amigos que somos hoje, sem implicâncias ou disputas, agradáveis, solidários, e muito bem humorados.

Esses quatros anos se passaram, e foram tantos textos para ler (alguns dos quais se assemelhavam a mensagens cifradas para nós), tantas aulas, trabalhos a entregar, tardes na arcádia ao redor de alguma discussão altamente relevante, aulas de línguas exóticas que alguns se sentiram desafiados a aprender, enfim, tantas atividades em comum (penosas, ou divertidas), que fazer parte desta turma tornou-se uma necessidade diária, mais do que uma parte da rotina.

Longe das obrigações ordinárias, como esquecer as inúmeras “piadinhas de lingüista”, ou aquela camiseta do Chomsky, carinhosamente planejada? Os almoços no IMECC ou no bandejão? (muitos embalados por palestras sobre a interessante mistura do guarani com o espanhol, uma língua chamada de “Jopará”).

Além disso, é forçoso lembrar como muitos de nós, longe ou perto de casa, pudemos sempre contar com os amigos. Afinal, quantas vezes precisamos de uma companhia, um favor, uma carona, um lugar para dormir em Campinas, ou mesmo um empréstimo de livro, quando éramos punidos pelas estranhas multas incrementais da biblioteca.

         E como não falar dos nossos queridos professores, especialmente aqueles que realmente fizeram com que nos sentíssemos especiais. Houve os que nos encantaram com seu conhecimento e dedicação extremosa às ciências da linguagem, os que desenvolveram nosso senso crítico, apesar da nossa teimosia, os que nos orientaram com dedicação e uma boa dose de paciência na iniciação científica, e, ainda, aqueles que somente com sua simplicidade e espontaneidade ganharam nossa admiração.

Durante esses quatro anos, também é visível como desenvolvemos preferências diferentes por áreas e teorias e criamos vínculos e admirações diversas... enfim, amadurecemos, como era de se esperar. Mas, como estreantes que somos, digamos que, até aqui, conseguimos pelo menos atenuar nossa ignorância.

Daqui para a frente, o que nos espera é um caminho individual. Chegado o fim, o que vamos fazer, o que seremos, se vamos ser “profissionais de destaque”, ainda não pensamos realmente sobre isso... Infelizmente, e digo isso especialmente aos pais, descobrir uma língua, um fonema ainda não registrado ou um sistema morfológico complexo não é como descobrir petróleo.

Deixemos, contudo, em suspense por um tempo esta reflexão, não pensemos sobre isso hoje, pois, no final, saberemos o que fazer se encararmos o fim deste curso também como o começo de outras possibilidades. Mas não nos esqueçamos como foi prazeroso pertencer a este grupo e a este instituto por um tempo.

Hoje a certeza, o conforto que esta turma pode manifestar a todos que aqui estão é que chegamos ao fim do curso, e por um motivo certo: estudamos muito (!), nos apaixonamos pela área, e certamente estamos imensamente orgulhosos por receber hoje o título de lingüistas, que somos. 

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Regressar

Uma vez eu disse que minha vida paralela no Brasil havia morrido. Pois bem, retornei de viagem e quis ressucitá-la: ledo engano.
Minha vida antiga campineira está mais morta do que nunca. O que mais me incomoda é que ela já fede a podridão. As figuras do passado já se enrugaram, os amigos antigos já reencarnaram. A casa se decompôs no meio de tanta poeira.
Sinto que meu coração está querendo enferrujar-se. É muito difícil não se deixar abater diante da imagem da destruição. Brevemente alçarei asas de novo. No entanto é sufocante notar que o palco de tantos momentos de alegria está completamente em ruínas.
Será que consigo aproveitar algo dessa vida pré-viagem? Ou será que se trata de uma oportunidade para começar tudo outra vez?
Acho que só o estado de decomposição ficou. Nada se aproveita, só os antigos vícios. Só a má fama se mantém. Não há como edificar vida nova num nicho tão repleto de negro, lama e solidão.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Memorial

Ando sem inspiração e com muita preguiça de escritura.
Para não deixar o blog abandonado, vou postar um texto de uma amiga.
É um memorial... Nele minha amiga relata como foi passar num vestibular e estudar na universidade pública, depois de ter sido uma aluna, no Ensino Médio, vítima do ensino básico público e brasileiro.

Com vocês:

Memorial - Ensino Fundamental e Médio


Minha vida escolar iniciou em 1990 quando ingressei na pré-escola, na cidade de Hortolândia. O mais interessante sobre a minha pré-escola é que as aulas não eram ministradas em nenhuma instituição de ensino, nem pública, nem particular. Era na própria casa da professora. Eu não sei dizer ao certo se ela cobrava alguma coisa ou não, mas tenho convicção que não, pois imagino que minha mãe na época não teria condições de pagar para eu estudar.

Lembro-me também das outras crianças, que eram tão necessitadas quanto eu, por isso acredito que eu não era um tipo de bolsista ou algo assim. Penso que essa professora era uma espécie de voluntária.

A sala de aula era composta de duas mesas compridas, a lousa em uma das paredes e nas outras os desenhos e trabalhinhos que nós fazíamos.

Quando entrei na pré-escola, eu já sabia ler e escrever um pouco porque meus irmãos me ensinavam, e na pré-escola fui de fato alfabetizada. A professora utilizava a mesma cartilha que usei novamente na primeira série, a cartilha do Tito, porém a cor do cabelo do Tito mudou de um ano a outro de preto para loiro.

Em 1991 iniciei a primeira série na E.E.P.G. “Maristela Carolina Melin”, já alfabetizada. As primeiras e segundas séries eram chamadas de “CB’s” e a letra correspondente à turma tinha uma relação com a qualidade da mesma, por exemplo: “CBA” melhor/mais forte que “CBB”, que é melhor/mais forte que “CBC”. Tanto na primeira quanto na segunda série.

Não me recordo ao certo se usei a cartilha só na primeira série ou na segunda também. Mas lembro que só na terceira série é que ganhei os livros de Ciências e Estudos Sociais (apesar de praticamente não usá-los). Foi a partir da terceira série também que pude começar a escrever com caneta no caderno. Até então só lápis era permitido.

Até a quarta série a turma tinha uma única professora, inclusive para as aulas de Educação Física, que para nós nada mais era do que um recreio bem grande.

Nesse período (de 1.ª a 4.ª série) praticamente não tinha lição de casa. Quando tinha era pouca e dava pra fazer na escola mesmo, ao terminar a lição dada da sala.

Na quinta série as coisas mudaram um pouco por causa do número de professores e das matérias novas, História, Geografia, Ciências. Essas matérias eram praticamente desconhecidas para nós. E até mesmo Português e Matemática passou a ser bem diferente. O que continuava mais ou menos igual eram as aulas de Educação Artística. A diferença era que agora nós fazíamos coisas mais elaboradas, aprendíamos sobre as cores... Porque até então tinham sido quatro anos de muito recorte e colagem, desenhos, pinturas com lápis de cor e giz de cera. Eu acho que só na quarta é que aprendemos a tabuada e a dividir.

A única coisa que não mudara nada era a aula de Educação Física, que exceto pelo novo professor, para nós continuava a ser um recreio bem grande.

Na sétima série passei a não freqüentar mais as aulas de Educação Física porque comecei a trabalhar. Trabalhava de dia e estudava à noite. Hoje eu mesmo me surpreendo só de imaginar que na sétima série, com menos de 13 anos, eu já estudava a noite. Hoje eu acredito que nem exista mais escola que ofereça turmas de sétima série no noturno.

Na quinta e na sexta série me lembro de ter de vez em quando trabalhos para fazer em casa que nós tirávamos dos próprios livros didáticos, e de ter participado de uma mini feira de ciências.

A partir da sétima série eu nunca mais fiz nenhum trabalho ou atividade extra-classe. Nem mesmo no ano seguinte, na oitava série, quando no segundo bimestre, mudei de escola e voltei a estudar à tarde até o fim daquele ano.

Um detalhe importante: até então, desde a primeira série, eu tinha estudado na mesma escola e tive praticamente os mesmos professores de 5.ª ao começo da 8.ª série. Às vezes um mesmo professor dava aulas de matérias completamente diferentes de uma ano para outro. Por exemplo, a minha professora de Ciências na quinta se tornou minha professora de Português na sexta. O professor de Matemática foi também de Ciências e Educação Física (em séries diferentes). Ou ainda a mesma professora ministrando duas disciplinas no mesmo ano, como Português e Inglês.

Em 1998, no início da oitava série, fui morar por uns meses na Vila União em Campinas. Passei a estudar em um CAIC, era o CAIC “Prof.º Zeferino Vaz”. Se eu não me engano os CAIC’s são administrados pelo município, apesar de existirem em várias cidades.

Apesar de estranhar os professores, eu gostava da escola nova pois a julgava melhor do que a antiga, porque tinha não só uma estrutura melhor (quadras diferentes, uma delas coberta, biblioteca, sala de computador), como as aulas tinham um conteúdo mais aprofundado. Lembro de ter tido uma queda nas notas e de ter tirado minha primeira nota vermelha.

A Educação Física também era bem diferente, nós praticávamos cada bimestre um esporte, e uma coisa que me marcou muito foi a realização de uma gincana esportiva feita com a escola toda dividida em equipes, e cada equipe continha participantes de todas as séries (de 5.ª a 8.ª). A minha equipe ficou em último lugar, mas me orgulho em citar que ganhamos no futebol, já que eu era goleira do time!

Na verdade eu preferia ser goleira porque não tinha que correr muito e em geral eu tinha ido mal durante o ano todo em Educação Física. Para mim, praticar algum esporte era algo absolutamente novo, e que eu não consegui me adaptar muito bem.


No primeiro colegial, em 1999, voltei para Hortolândia (para a mesma casa em que havia morado desde a pré-escola, e na qual moro até hoje) para uma escola diferente, mas com a mesma “turma”, porque o “Maristela” era uma escola de 1.ª a 8.ª e por isso era comum os alunos que saíam de lá irem para o “Everest”, como era conhecida a E.E. “Prof.ª Hedy Madalena Bocchi”, já sem o “PSG”.

Essa escola nova (com rostos já conhecidos) era considerada uma das melhores escolas públicas de Hortolândia em termos de estrutura. Era bem grande (os primeiros anos iam até a turma I e os terceiros, até H), tinha biblioteca e sala de computadores, porém ficavam trancados (inclusive a biblioteca).

Nos três anos em que estudei lá, só entrei na sala de computador uma vez no terceiro ano para fazer uma reunião de formatura.

Só era permitido pegar na biblioteca o livro que a professora de Português indicasse (quando ela indicava!) e era sempre a inspetora que pegava. Nós não tínhamos acesso às prateleiras.

Nenhum conteúdo, de nenhuma matéria, era bem explorado. Eram no máximo apresentados, e o conteúdo das provas era sempre alguma coisa dada para decorar poucos dias antes. Nas exatas as fórmulas eram passadas sem grandes explicações, no fim, Física, Química e Matemática era a mesma coisa: equação de primeiro grau. Era só decorar a fórmula (quando já não vinha na própria prova) e achar o “x”, nunca havia duas incógnitas no mesmo “problema”.

Não tínhamos livros didáticos.

Durante os três anos não fiz sequer uma redação e li dois livros, um deles a meu pedido.

No segundo ano fiquei pela primeira vez de recuperação, mas não era a recuperação como havia na época do ensino fundamental. Era a famosa recuperação de janeiro. A matéria na qual eu teria reprovado era História (reprovada por falta, porque por nota era praticamente impossível reprovar), mas passei janeiro inteiro relembrando a época do ensino básico, fazendo recorte e colagem e montando painéis sobre assuntos diversos.

Os professores, de maneira geral, não tinham comprometimento nenhum com as aulas, com os conteúdos, muito menos com os alunos. No primeiro colegial tive 5 professores de Física, e era comum a troca de professores na disciplina durante o ano letivo.

Sem contar os professores substitutos que passaram a ser figuras de presença constante e que eram na verdade “babás” e não passavam conteúdo algum.

O tema “ensino superior” nunca fora mencionado, a não ser em uma ocasião em que a Universidade Paulista – UNIP, passou distribuindo inscrições gratuitas para seu vestibular. Teve até mesmo um caso de uma colega de turma que preencheu a tal inscrição (na própria escola), mas não foi fazer a prova, e mesmo assim recebeu uma cartinha parabenizando-a por ter sido aprovada no vestibular.

Eu não me interessei em preencher, já que não teria condições financeiras para pagar a faculdade.

Quando “terminei meus estudos” (essa era a idéia geral de quem se formava no ensino médio), estava na verdade triste porque eu sonhava eu fazer uma faculdade, em “ser alguém na vida”. Porém o meu salário era bem distante do necessário para se pagar uma faculdade.

Nessa época eu trabalhava em uma escola de informática próxima a um cursinho pré-vestibular (que na época eu não sabia ao certo do que se tratava). Certo dia, ao passar em frente como de costume, notei uma faixa que dizia “inscrições abertas”. Como sempre fui interessada em fazer cursos (na esperança de ter um emprego melhor), entrei para perguntar do que se tratava aquele curso, e lá a recepcionista me explicou que se eu fizesse aquele curso e me dedicasse bastante eu poderia entrar em uma universidade pública e não teria que pagar para fazer faculdade. Foi nesse dia que descobri que a Unicamp não era um Hospital.

Consegui bolsa no cursinho (era um cursinho alternativo) e comecei a estudar. Lá eu aprendi todas as coisas que eu nunca tinha ouvido falar no ensino médio. No meu caso (e acredito que no de todos que estudaram em escola pública) o cursinho estava bem longe de ser só uma revisão. Lá eu vi pela primeira vez conteúdos simples como "velocidade é igual a delta esse sobre delta te".

No primeiro ano de cursinho, além de aprender os conteúdos do ensino médio, aprendi também sobre as instituições e os cursos, o que me permitiu escolher não só um curso (diferente de administração!), mas a própria instituição.

Nesse ano eu passei apenas a primeira fase dos vestibulares da USP e da Unicamp, o que pra mim já foi uma grande vitória e motivo de muito orgulho para a minha família (que passou também a entender melhor essa diferença universidade pública/privada).

No ano seguinte cursei novamente o cursinho e consegui passar nas duas Universidades, porém na Unicamp fiquei em 20.º lugar na lista de espera o que não me deu esperanças de que iria ser chamada, já que o curso de Letras tinha apenas 30 vagas.

No entanto fui chamada ainda no primeiro dia de matrículas (1.ª chamada tarde), o que pra mim foi uma alegria muito grande, e a sensação que eu tive foi a de que o fim tinha chegado, meu objetivo tinha sido conquistado.

Hoje eu sei que na verdade aquele era só início de uma longa estrada.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Ansiedades

O texto que aqui será publicado é obra do meu grande amigo André Leonardo. É um texto já velho, publicado, em 2006, no blog dele (que por sinal, recomendo. Eis o link: Fala alguma coisa).
Numa brincadeira de amigos, fiz a minha versão para o espanhol.
Reproduzo-o catarsticamente nas duas línguas, para os meus dois mundos. Com vocês...

Ansiedades

Breve estarei diante de todos os meus amores, aguardo ansiosamente para me reencontrar com eles. Agora mesmo, ouço suas vozes em minha mente, eles me chamam, me dizem, cada um a sua maneira peculiar, venha, venha, viveremos momentos felizes juntos, lado a lado. Nenhum me completa a existência da mesma maneira, por isso tenho vários, vários amores, que amo diferentemente. Ainda estou distante deles e penso, meu Deus, não haverá tempo para todos eles, há pouco eu disse a alguém, o tempo é aquele que temos, mas não posso chegar aos amores que "sobrarem" quando dos encontros e dizer isso a eles. Não está certo. O ideal seria eu ser vários, como vários eles são, para ter tempo para me alegrar ao lado de todos. Mas espere...eu já sou muitos por amar de modos tão diversos, sou um, único, com a característica de ser muitos. Se me quebrasse em muitos de fato, cada um deles seria menos que um, incompleto, querendo mais, os outros. Penso melhor, meus amores me entendem, se o tempo para algum ou alguns deles me faltar, quem mais sofre com isso sou eu mesmo, mas meus lindos amores me consolam, estando presentes a todo momento, aguardando pacientemente que minha hora para eles chegue. Então não está mal ser um, um para todos, e todos me tornam esse um.


Breve estarei diante de meus amores. Podem me ouvir? Não podem. Eu ouço vocês. Estou chegando!
 
***
 
Ansiedades
 
Pronto estaré delante todos mis amores, aguardo ansiosamente para que les reencuentre. Ahorita mismo, escucho sus voces en mi mente, ellos me llaman, me dicen, cada uno a su manera peculiar, venga, venga, vamos a vivir momentos felices juntos, lado a lado. Ninguno me completa la existencia de la misma manera, por eso tengo varios, varios amores, que amo diferentemente. Aún estoy distante de ellos y pienso, ¡Díos mío!, no voy a tener tiempo para todos ellos, hace rato conté a alguien, el tiempo es este que tenemos, pero, en los momentos de las citas, no puedo contarles eso a los amores que "restaren". No es cierto. Lo ideal sería que yo fuera varios, como varios ellos son, para que tenga tiempo en alegrarme al lado de todos. Pero espere… yo ya soy muchos por amar de modos tan diversos, soy uno, único, con la característica de que soy muchos. Si me rompiera en muchos de hecho, cada uno de ellos sería menos que uno, incompleto, queriendo más, los otros. Pienso mejor, mis amores me entienden, si el tiempo para alguno o algunos de ellos me falta, quien más sufre con todo eso soy yo, pero mis guapos amores me confortan, estando presentes a todo momento, aguardando pacientemente que mi momento para ellos se les antoje. Entonces no es mal que sea uno, un para todos, y todos me vuelven ese uno.


Pronto estaré delante mis amores. ¿Pueden escucharme? No pueden. Yo les escucho a ustedes. ¡Estoy llegando!

terça-feira, 4 de maio de 2010

Luto

quarta-feira, 28 de abril de 2010

O garoto que trombou com a velha


Outro dia, andando pela rua, parei demoradamente na esquina. Mas não tão demoradamente assim, só até que o sinal se abrisse. Esperava logo, enfim, continuar meu trajeto.


Distraído com as meninas de Velásquez, pus-me a observar as réplicas-bonecas de cera bem ali num café daquela plena esquina. Acabei por perder, assim, o rumo de minha espacialidade. O devaneio, no entanto, não tardou o bastante, porque muito violentamente fui desentranhado das minhas fantasias.

Enquanto as ancas das meninas me reportavam a costumes outros e a outra mentalidade, de súbito fui transportado à realidade da cultura espanhola de hoje.

Foi que, quando o sinal abriu, a multidão se alvoroçou. E lenta, mas rapidamente, dei de frente com uma senhora: foi um típico esbarrão.

Às voltas com meu mundo, caí de imediato no mundo dela.

Lembrei que estava em Madri, numa Madri de todos os dias. Numa Madri de agora.

Nas grandes cidades as pessoas são sisudas. Todas saem vestidas de si mesmas e tudo que elas esperam é não ser tiradas dessa esfera.

Madri é muito curiosa nesse aspecto. As artimanhas das pessoas para que estejam, quando em público, sempre dentro delas mesmas são notórias. No metrô, sempre há um livro tirado das bolsas das senhoras como armadura. No parque, se dá o mesmo.

Divirto-me, quando um músico de rua, ao entrar no veículo, começa a executar sua obra e a espalhar o seu mundo para além das fronteiras dos das senhoritas e seus livros. É muito fácil conseguir a gorjeta: "pago-te para que me deixes". Sinto prazer com o desconforto espanhol.

O livro é o lugar da alienação e da falácia. Madri não lê, Madri lê no metrô, nada mais. A telenovela está ali novelada no papel: “A menina que se machucou apanhando uma rosa”, “A lua amarela de Augusta”, “Os queijos que o gato não comeu”, “Betânia já não chora” são mais ou menos os títulos preferidos para o embolhamento do pessoal.

Quando aquele sinal abriu e se deu os choques de dois mundo, percebi que os latinos somos muito diferentes em nossas reações. Mais que depressa tratei de me desculpar. Mas tirar um espanhol de seu mundo não é como tocar aquela flor que se fecha ao simples toque. O espanhol se abre e joga em cima de você todos os leões que eles têm guardados. Aliás, eles se fecham sim, mas como as plantas carnívoras, que se fecham e te engolem.

Para mim foi realmente violenta a reação de uma velha senhora, mais maquiada que o habitual, que não economizou “coños”, “gilipollas”, “joderes” e um bem grande “olha bem por onde anda”, implicitamente dizendo “senão olhares, mato-te”.

Longe de generalizações: também há latinos assim e nem todos os espanhóis padecem do mesmo estresse. Mas é que tomar uma atitude aqui é muito mais freqüente que tomar uma atitude lá.

Simplesmente resgatei minhas raízes guaranis e baixei o olhar envergonhadamente. As meninas de Velásquez ficaram ali mesmo, naquela esquina, com o episódio da velha rabugenta.

Bem feito, quem mandou se aventurar: lugar de índio é com Macunaíma.

terça-feira, 20 de abril de 2010

Hoje é domingo

Domingo é dia de estar com aquela carinha! Sabe quando você vê a mulher sem maquiagem? Essa é a carinha que eu tenho aos domingos.


Por trás do rosto limpo, parece que há certa sujeira, no entanto. Os faróis exprimem o vazio e eis a carinha de domingo.

A festa da véspera acabou, os amigos foram embora. Comeu-se, bebeu-se, riu-se, tudo em demasia. Estou sozinho com o que restou: a minha carinha domingueira.

Mesmo que eu chupe um sorvete, ainda que eu vá ao parque, estarei carregando a mesma face de todos os domingos.

É que tiraram de mim o que de mais animal há e em troca me deram a culpa. E tudo isso, porque hoje é domingo. Aclamado o dia oficial do nada, fico, neste dia, diante do nada e de mim mesmo.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Consejo de Amigo / Conselho de amigo

Yo no quiero que mi apoyo sea un ingrediente relevante para que tomes decisiones. Hay decisiones que cada uno debe tomar por sí mismo y esta es una de esas ocasiones en las que solamente tú debes fijar una posición y ser consecuente con ella. Es por ello que te pido de la manera más amablemente posible que te tomes tu tiempo para resolver las cosas, pensando sólamente en tí mismo. Ánimo, Diego, que todo se va a resolver. Intenta despejar el camino para que puedas transitar lilbremente. Aprende de tus relaciones para que tus compañeros sentimentales no se conviertan en pesadas cargas, para que comprendas que las relaciones amorosas son estados transitorios de alegría, para que te percates de que las relaciones sentimentales no se pueden basar en mi absoluta dependencia: No existen los complementos perfectos. Vivir en pareja no puede significar que deje de vivir mi vida por temor a que el otro viva la suya. Estamos solos, nos acompañamos momentaneamente en la vida, a veces tenemos la fortuna de que las personas, que escogemos como compañeros de vida, permancen con nosotros hasta la muerte, pero, en otras ocasiones, son los fatídicos azares de la vida quienes nos separan de lo que más amamos. La vida es un continuo de soledades: Algunas veces las percibimos someramente, otras tantas, se avecina intempestivamente sobre nosotros. Esto no significa que no existan seres a quienes amamos y que nos aman. Están allí presente, ocupando un espacio privilegiado en nuestra memoria, indelebles en el tiempo y en el espacio, proporcionándole sentido a lo que hacemos y a lo que sentimos, alojándose en los recovecos del sentimiento y activándose con los más simples pensamientos. La felicidad no es eterna, es relativa y momentanea. ¿Cómo se construye? Lamento informarte que no tengo esa respuesta, pero sí te puedo asegurar que la felicidad no se puede construir sin que tenga claridad respecto a las cosas que quiero y que deseo. No se puede ser feliz con los otros, cuando no se es feliz con uno mismo.

Qué sea esta la oportunidad para fijar tus prioridades. Qué construyas tu futuro basado en tu bienestar y en tu felicidad.

Todo va a salir my bien. Ya lo verás.

No pienses en nadie más que en tí mismo.
Cuídate mucho.
*****

Não quero que meu apoio seja um ingrediente relevante para que vc tome decisões. Há decisões que cada um deve tomar por si só e esta é uma dessas ocasiões em que somente vc deve estabelecer uma posição e ser consequente com ela. É por isso que te peço, da maneira mais amável possível, que tome seu tempo para resolver as coisas, pensando somente em vc mesmo. Animo, Diego, que tudo se resolverá. Tente limpar o caminho para que vc possa transitar livremente. Aprenda das suas relações para que seu companheiro sentimental não se transforme em uma pesada carga, para que vc compreenda que as relações amorosas são estados transitórios de alegria, para que vc se previna de que as relações sentimentais não podem ser baseadas na sua pura dependência. Não existem os complementos perfeitos. Viver em casal não pode significar que vc deixe de viver sua vida por temor de que o outro viva a dele. Estamos sozinhos, nos acompanhamos momentaneamente na vida, às vezes, temos a fortuna de que as pessoas que escolhemos como companheiros de vida permaneçam com a gente até a morte, mas, em outras ocasiões, são os fatidicos azares da vida que nos separam dos que mais amamos. A vida é um continuum de solidões: algumas vezes as percebemos superficialmente, outras tantas, elas se aproximam intempestivamente da gente. Isto não quer dizer que não existam os seres a quem não amamos ou que não nos amam. Eles estão ali, presentes, ocupando um espaço privilegiado em nossa memória, indeléveis no tempo e no espaço, proporcionando sentido ao que fazemos e ao que sentimos, alojando-se em nosso mais íntimo sentimento e se ativando com o mais simples pensamento. A felicidade não é eterna, é relativa e momentânea. Como se constrói? Lamento informar que não tenho essa resposta, mas sim, posso te assegurar de que a felicidade não pode ser construída sem que se tenha a clareza com relação às coisas que vc quer e deseja. Não é possível ser feliz com os outros, quando não se é feliz consigo mesmo.


Que seja essa a oportunidade para estabelecer suas prioridades. Que vc construa seu futuro baseado no seu bem estar e na sua felicidade.
Tudo vai dar certo. Vc vai ver!
 
Não pense em ninguém mais que vc mesmo.
Cuide-se!

domingo, 28 de março de 2010

Primavera

Otra primavera que viene llegando y yo, aquí, en mi refugio, asilo que me propuse, contrariando a las estaciones de las parejas, de los enamoramientos y de los amores que están juntitos. Otra primavera que no será como las otras. Otra estación que no fue como otra. Que es singular con sus ingredientes nuevos, aunque únicos. Acrecida de fama, reconocimiento, popularidad conquistadas y faltante en vida humana que cede cariño. La búsqueda no para, el camino es siempre desviado, y las protuberancias me proponen la caída: yo me dejo caer y permito que la vaguedad me consuma.


No prometo nada, no me prometo nada, la vida, la vida joven, sobre todo, existe para que la disfrutemos, y además, ya no tengo créditos, mis promesas tienen el mismo valor que el hilo de una navaja ciega.

La primavera que debería recolectar las bonanzas tras el rigor hibernal, ahora coge las intemperies merecibles como la cigarra hedonista.

Sin embargo, aun existe una llama ofuscada dentro de algún lugar en mí que me hace conciente y me guía en esta casi total insanidad.

Me callo para que no sea una amenaza a la esencia de la primavera, me callo para que no hiera a los que creen en los sueños de esta estación florida, me callo porque no quiero salar a los ríos. Me callo porque es parte de mí la serenidad. Salgo de escena porque necesito ser una persona nueva, capaz de entender un poco de lo que es la primavera. Y ser capaz de sentir todos sus olores, admirar todos sus colores y sentir el amor evocado a partir de un simple beso. ¡Quiero enamorarme!