domingo, 27 de dezembro de 2009

Barcelona já não volto

Eu fui correndo até ali, naquela beiradinha, no alto daquele barranco, bem lá, do lado mais distante da falésia e fixei minha mirada rumo ao vasto oceano, já havia experimentado tal feito... agora era novo. Aquele último pedacinho de chão, embora eu estivesse enganado, me fazia sentir mais perto de casa. Na verdade, a água salgada me atraía, queria misturá-la com a das minhas lágrimas. E verti por longo tempo tudo o que eu merecia, fazia um frio, mas o corpo já nem percebia mais, o calor deixado pelo rastro do pranto era suficiente para afastar a brisa de inverno.
Chegou o meu momento, hora de refletir. O que levamos? Não podemos tudo, não entra tudo, o espaço é limitado: pedaços de mim ficarão. Porém, a resultante, não importa de que tamanho seja, sempre acompanha a gente. E chegou a hora de manipular meus cálculos, somar as vertentes, subtrair as menores, organizar os ângulos: é um trabalho duro, sem esquadros, nem compassos ou réguas, é tudo feito de cabeça, com as próprias mãos, com a própria memória.
O que levarei? Onde está a minha resultante? Está nas minhas mãos calejadas, nos negros dos meus olhos, na magreza recente, e sobretudo, no mais íntimo do meu peito, manifestando-se nos atos que hão de vir, na minha nova relação de ver os outros e ver o mundo.
Deixo muitos pratos sujos, a pia repleta de louça, que muitas vezes preferi quebrar a ter de limpá-las. Deixo a porta aberta, a luz acesa, o gás ligado... Para que entrem os ladrões e levem tudo, para que venham os gusanos e comam tudo, para que tudo acabe. Não farei nada, não restarei para assistir.. partirei de pronto, finjindo um orgulho que não é meu.
Eis a resultante. Uma nova vida, sem muita bagunça, sem muito barulho, sem muitas pessoas. À espera, de que venha do céu o fim disso tudo, uma página menos pesada e mais fácil de virar.

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