Olhando pelo buraquinho da porta, eu pude ver o corpo que era meu entregar-se ao desconhecido.
A chama brava veio, noites oníricas me arrastaram para o caldeirão do purgatório, mesmo com todo frio além da janela. A pele se mantinha tíbia e a imaginação fantasiava.
Aquela boca pura, aquela pele macia e clara em mãos de outra pessoa mais bonita que eu. Os complexos apareceram, os medos apavoraram.
Mas o pior é que tudo aquilo poderia ser a fonte de uma breve substituição, bastasse o entusiasmo levar aos reencontros - dia após dia -, então, uma nova rotina se constituiria. Finalmente, nossas antigas recordações seriam esquecidas. O desejo venceria o amor.
Toda a sua meiguice, todo aquele charme e até mesmo todos aqueles defeitos, com os quais eu afavelmente aprendi a lidar, transpostos para outro lar, para outro coração. Conversas noturnas, passeios vespertinos, muita sintonia entre a gente transformando-se em ruína.
A mente do coração ciumento divaga, vai longe e não entende que o amor não nasce facilmente. Se eu cavalguei milhões de morros para achar, se muitos como eu estão até agora procurando, não seria uma mera noite a responsável pelo desamor.
O desamor vem depois. Vem também da amargura, vem dos complexos, vem da angústia, do ciúme e da vaidade. Vem mais de mim que do outro. Por isso eu te amo cada dia mais.
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