terça-feira, 29 de dezembro de 2009

A cigarra hedonista

Mais uma primavera se aprochega e eu cá em meu refúgio, asilo criado, contrariando à estação dos casais, dos acasalamentos e dos amores que se aconchegam.
Mais uma primavera que não será como as outras. Mais uma estação que não foi como outra. Sendo singular em ingredientes novos, ainda que únicos. Com o acréscimo de fama, reconhecimento, popularidade conquistadas e faltante em vida humana que cede carinho.
A busca não cessa, o caminho é sempre desviado, e as protuberâncias me propõe a queda: eu me deixo cair e permito que a vagueza me consuma.
Não prometo nada, não me prometo nada, a vida, a vida jovem, sobretudo, está aí para ser desfrutada, e ademais, não possuo mais créditos, minhas promessas valem tanto quanto um fio de navalha cego.
A primavera que deveria colher as benesses de um rigor hibernal, agora colhe as intempéries merecíveis tal qual a cigarra hedonista.
No entanto, ainda existe um lume ofuscado dentro de algum lugar em mim que me faz consciente e me guia nesta quase total insanidade.
Calo-me para não mostrar que sou uma ameaça à essência da primavera, calo-me para não ferir aos que acreditam nos devaneios desta estação florida, calo-me porque não quero salgar os rios. Calo-me porque é própria de mim a serenidade. Saio de cena porque necessito ser uma nova pessoa, capaz de entender um pouco do que é a primavera. E ser capaz de sentir todos os seus olores, admirar todas as suas cores e sentir o amor evocado a partir de um simples beijo. Quero me apaixonar!

P.S. Sim, consegui essa nova vida que buscava. Me apaixonei. Mas o coração romântico do homem apaixonado sofre muito mais que o coração solitário.

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